Monday, September 04, 2006

Nem sempre é questão de ir embora e sim deixar de ficar.

A intolerância acaba com a minha eterna espera do nada-acontecer. Com essa cíclica forma em que tudo acontece sem um mínimo propósito e foge do meu controle. Aí eu acabo com as minhas horas pensando em como não ser e esqueço simplismente do essencial, ser. Todo momento acho uma música que canta minha vida e todas elas são tristes. Há uma semana passo pouquíssimo tempo em casa, ou seja, sozinha. Isso significa que a qualquer hora posso sofrer a maior crise de abstinência do mundo, eu não tenho tempo pro meu vício e o meu vício é ficar só. Tem gente que jura (ao meu ver são todas pobres de si) que é melhor sofrer crise de abstinência de solidão a sofrer overdose. Eu gosto da overdose. Aliás, eu gosto da overdose por não sair de dentro de mim. Eu moro e morro em mim, lentamente, demasiadamente. A minha ânsia de todos ao meu redor me causa extrema dor. E eu tenho sono, morro de sono, me acabo de tédio, me mordo de ódio, e de que vale senão para a minha auto-destruição? Meus textos são o manual do não-ser, do não-passar, do não-tentar. Uma exposição dos meus piores/melhores sentimentos que tendem a virar brincadeira caso, por um erro, caia na mão de uma pessoa certa (porque a errada certamente sou eu). É como se eu estivesse despida, com toda a minha pele na promoção pendurada em um cabide e só sobrasse os meus sentimentos em um freezer que, por ironia, é quente. Resisto bravamente em fazer tudo o que não gosto, mas faço. E quando vou fazer o que me dá prazer logo acho errado, que não preciso. Pois preciso! É a minha vontade! Será que eu poderia me entender? Será que eu poderia me permitir fugir dessa monotonia amarga que é a minha vida? Se é que isso é vida. Eu me sinto no último dia de um espetáculo, que durou três anos (ou vinte). O dia em que o elenco se despede, que a cortina fecha, que o palco já está gasto, o cenário foi tirado e aí não mais que de repente o palhaço, agora com o rosto sem maquiagem, afinal até ele sabe o que é e como é a realidade, entra no palco e diz com uma voz rouca, quase de dó, para o platéia, ou seja, para mim, já que só eu resisti até agora: a vida é isso. E eu que esperava muito mais. As vezes eu acho que não é a vida e aí quando vale é, e quando é péssimo, não é. Conclusão, quanto mais me engano, mais tempo demoro para aceitar e eu só me engano. Eu nunca quis ir embora, mas me esforço para deixar de ficar. Me esforço para saber o que quero, me esforço para não me esforçar e para que meu esforço seja revertido em calma um dia, em paz. Pois dentro de mim é tempestade.