Sunday, October 25, 2009

pronto, socorro.

é uma situação simples e é engraçada porque, geralmente, as pessoas que me reencontram ou passam a me conhecer, em algum momento da conversa fazem um comentário sobre o tamanho da minha bolsa. o que ninguém entende é que o tamanho da minha bolsa é extremamente necessário no meu universo, uma vez que nela carrego coisas essenciais para que, se eu for pega desprevenida pelo tédio a qualquer hora do meu dia, tenha em mãos coisas que me façam sucumbir essa condição. sendo assim, seu conteúdo fixo é: um livro - que nunca é o mesmo da minha cabeceira (existem os livros para serem lidos no quarto e os livros para serem lidos em qualquer outro lugar); um mini caderno - que serve tanto para anotar meus textos quanto para rabiscar algum desenho; um tocador de músicas - sempre com a bateria por terminar; e alguns remédios - um para cada sintoma que eu já tive. agora, por exemplo, estou no hospital esperando a minha hora de ser atendida, e não deixei, em momento algum, que o rosto das pessoas doentes me desconcentrasse na minha busca eterna pelo não-tédio. todos os 'instrumentos' da minha bolsa-de-primeiros-socorros me ajudaram a sair bem dessa. comecei pelo livro, ai a medicação me deu sono e enquanto esperava pra saber se conseguiria a alforria, ouvi o som, prestando atenção em cada frase, repetindo as músicas que mais gosto, se necessário. mas o mais engraçado de tudo isso é que nem com todos os remédios que carrego na bolsa, consegui evitar ter que passar por aqui. pelo menos agora já adicionei esse à minha lista, loratadina. de alergia eu não sofro mais, daqui pra frente só alegria.

Thursday, October 15, 2009

novocaine for the soul.

eu consigo agora subir no alto da minha vida e ver lá de cima, como uma clandestina, tudo que foi errado. faço confissões que nunca fiz, digo as palavras que evitava. hoje escrevo e erro tanto que nem ligo. bato o carro, bato a cara, e nem assim fecho a porta. antes era descontrole, daqueles de arder de raiva. agora é vontade que me levem, me ensinem e me devolvam como eu nunca fui. e é diferente. não faço planos, não brigo tanto - perdi coisas demais assim. aprendo muito em um dia, a ponto de achar que dura mais horas. estou anestesiada pelas coisas, sob efeito de alguma droga boa. é tudo tão sensorial, que quando canto músicas que sei decor, vejo cor! fiz mais quadros e me prometi sem cruzar os dedos nas costas: 'aprendo a desenhar nem que for a última coisa'. não me saboto mais. carrego nos olhos coisas lindas, trechos de música, poemas inteiros, na pele um fernando pessoa com todos os sonhos do mundo. carrego nas mãos os últimos lugares que passei, tudo o que conheci. e em cada parte, pra cada um, faço a trilha, escrevo uma linha, desenho uma folha no meu caderno de bolso e deixo de lembrança. é que sei aonde é o seu lugar, e é do meu lado. agora que tenho certeza que não vivi nada, não aceito arrogância. sei o que é bom pra mim e o que não quero mais. demoro para aparecer, e quando estou é porque sou ali. eu falo agora das coisas sutis, do saber que a brisa arrepia porque é vida. não é tão sério, tá no meu corpo. estou aprendendo outras línguas, tenho vontade de reencontrar pessoas pra sentar no boteco, abrir meu caderno e contar essa história. se for preciso desenhando céu aonde é sol, com a mesma vontade que escrevo minhas linhas. quem esteve em mim nesse tempo sabe que sou traço à mão, rascunho 'dos bravos', a primeira letra no meu caderno de caligrafia, aqueles quadriculados. before i sputter out.