Sunday, September 18, 2005

Again and again.

E só de pensar em acodar e encarar essas pessoas que não sabem de mim, não sentem nenhuma poesia em suas vidas e levam tudo como uma simples paródia por mais profunda que as coisas sejam, já sinto a minha boca secar e nos olhos um amargo de quem os fixa no fundo de um lago tão claro que se sente pequeno diante de tanta beleza. A beleza não é pra mim, e pior, nunca foi. Exceto quando tinha cinco anos e todos achavam lindas as minhas bochechas gordas e tinham uma falsa impressão do que eu viraria.
Olho para ele e falo mil vezes para mim mesma que nada no mundo me entenderia tão bem quanto seus braços. Mas só eu enxergo isso, nem mesmo ele. E não é porque vejo demais ou de menos, é que para mim basta o que eu sei (e não sei nada). Então passo horas tentando provar o quanto combinaríamos, através de sorrisos e falsas indagações; e tentando me convencer do contrário.
Quando percebo estou no meu sofá sozinha de novo, sabendo que da próxima vez pensarei mais de mil vezes antes de levar, já que, querendo ou não, cada vez que o faço não encaro só o mundo, mas me lembro incansavelmente o porquê estava sentada.

Thursday, September 15, 2005

Lúdico fracasso.

Minha vontade era quebrar. Quebrar tudo que visse pela frente como quem mata um culpado. Levo nas mãos os gritos que me engasgam, minha garganta já não pode mais sussurá-los. Porque são tantos e vestem esses cobertores de flores em volta dos finos traços que os confunde? Vivo para trás. Derrubo no tapete vidros claros de vidas que não sejam a minha. Furo o mural como se furasse um coração pela primeira vez. Estão sabendo de você o que eu não soube. Estão ganhando de você o que eu não tive. Amei e afundei na mesma proporção que agora sofro. Gostei de me sentir assim e por muito tempo me fiz sofrer, e agora que as manchas já não saêm não quero mais. Foi como se as marcas de queimadura pasassem a minha pele e parassem no coração. Agora não sei mais do que falo, com quem falo. Tenho medo de, a qualquer hora, começar a cuspir sangue por todos os buracos da minha vida, enxê-los e quando já não puder mais, me cuspir inteira para que todos vejam quem eu verdadeiramente sou. Me suicido aos poucos. Já já são os pulsos e o aí já não terei mais força para lutar por tudo de errado e proibido que insisto em gostar. O vão do nada e do tudo para mim são iguais, salvo que no nada eu me acho mais. Eu ando só e não me permito sonhar, embora temo descobrir que quando se tem mais sonhos é possível trocá-los, na promoção, por um pouco de realidade. E é só isso que eu busco.

"Meu Deus, por que me abandonaste se
sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco. "
(Carlos Drummond de Andrade - Poema de Sete Faces)