Minha vontade era quebrar. Quebrar tudo que visse pela frente como quem mata um culpado. Levo nas mãos os gritos que me engasgam, minha garganta já não pode mais sussurá-los. Porque são tantos e vestem esses cobertores de flores em volta dos finos traços que os confunde? Vivo para trás. Derrubo no tapete vidros claros de vidas que não sejam a minha. Furo o mural como se furasse um coração pela primeira vez. Estão sabendo de você o que eu não soube. Estão ganhando de você o que eu não tive. Amei e afundei na mesma proporção que agora sofro. Gostei de me sentir assim e por muito tempo me fiz sofrer, e agora que as manchas já não saêm não quero mais. Foi como se as marcas de queimadura pasassem a minha pele e parassem no coração. Agora não sei mais do que falo, com quem falo. Tenho medo de, a qualquer hora, começar a cuspir sangue por todos os buracos da minha vida, enxê-los e quando já não puder mais, me cuspir inteira para que todos vejam quem eu verdadeiramente sou. Me suicido aos poucos. Já já são os pulsos e o aí já não terei mais força para lutar por tudo de errado e proibido que insisto em gostar. O vão do nada e do tudo para mim são iguais, salvo que no nada eu me acho mais. Eu ando só e não me permito sonhar, embora temo descobrir que quando se tem mais sonhos é possível trocá-los, na promoção, por um pouco de realidade. E é só isso que eu busco.
"Meu Deus, por que me abandonaste se
sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco. "
(Carlos Drummond de Andrade - Poema de Sete Faces)