Thursday, September 15, 2005

Lúdico fracasso.

Minha vontade era quebrar. Quebrar tudo que visse pela frente como quem mata um culpado. Levo nas mãos os gritos que me engasgam, minha garganta já não pode mais sussurá-los. Porque são tantos e vestem esses cobertores de flores em volta dos finos traços que os confunde? Vivo para trás. Derrubo no tapete vidros claros de vidas que não sejam a minha. Furo o mural como se furasse um coração pela primeira vez. Estão sabendo de você o que eu não soube. Estão ganhando de você o que eu não tive. Amei e afundei na mesma proporção que agora sofro. Gostei de me sentir assim e por muito tempo me fiz sofrer, e agora que as manchas já não saêm não quero mais. Foi como se as marcas de queimadura pasassem a minha pele e parassem no coração. Agora não sei mais do que falo, com quem falo. Tenho medo de, a qualquer hora, começar a cuspir sangue por todos os buracos da minha vida, enxê-los e quando já não puder mais, me cuspir inteira para que todos vejam quem eu verdadeiramente sou. Me suicido aos poucos. Já já são os pulsos e o aí já não terei mais força para lutar por tudo de errado e proibido que insisto em gostar. O vão do nada e do tudo para mim são iguais, salvo que no nada eu me acho mais. Eu ando só e não me permito sonhar, embora temo descobrir que quando se tem mais sonhos é possível trocá-los, na promoção, por um pouco de realidade. E é só isso que eu busco.

"Meu Deus, por que me abandonaste se
sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco. "
(Carlos Drummond de Andrade - Poema de Sete Faces)